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TABACARIA
(15-1-1928)
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa,
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo, Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.
(O dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu.
PERSPECTIVAS NIETZSCHEANAS, Nº 1 (1992) pp. 7-15
Stella Accorinti
EL COMBATE CONTRA EL NIHILISMO
“¿No le sería lícito al filósofo elevarse por encima de la credulidad en la gramática?”FRIEDRICH NIETZSCHE, Más allá del bien y del mal, § 34.
Introducción
¿Cuáles son las preguntas que queremos realizar en este momento histórico? ¿Cuáles son las acciones que deseamos emprender ante el panorama ético que se nos ofrece (y que ofrecemos)? ¿En qué “lugar” está el cruce entre las preguntas y la acción? Quizá toda pregunta sea ya una acción, y cada emisión de palabra sea ya actividad, y quizá toda acción lleve en sus hombros una pregunta. Y en este enhebrar “quizás” comienza la lucha de cada momento: el querer una voluntad fuerte, la decisión por una alegre salud (ésa tan esquiva, la que hay que conquistar minuto tras minuto), el apostar por una interpretación asumiendo la provisoriedad que el juego de las perspectivas ofrece, el reconocernos como una potencia débil en su seguridad y fuerte sólo en su disgregación. Un quererse hermanado con todo lo viviente, aceptándose con energía como un centro de fuerza entre otros, pero a la vez distinto, y sabiendo que cada voluntad de poderío es distinta, mirar, y ver, que cada centro de fuerzas concentra su poder en expandirse, un quererse distinto en cada instante, a la unidad, que lleva a la muerte, y que es la muerte misma (sólo en la muerte nuestro cuerpo propio deja de ser cambio constante, interpretación diversa por los demás y para los demás, desde los otros -cuerpos propios y hacia los otros; sólo en la unidad accedemos a la estatización de lo real, que es deviniente: la creencia en el concepto de unidad asesina el porvenir. Y es la adoración de los conceptos y el arrodillarse frente a las propias creaciones lo que equivale a la muerte o, en el más suave de los casos, a ser guardianes de tumbas, creyendo que se cuidan seres vivos, o, aún peor, la esencia misma de la vida, tarea macabra y ridícula a la que se dedican con ahínco todos aquellos a quienes Nietzsche incluye en el tipo del sacerdote -la casta sacerdotal incluye, claro está, al sacerdote mismo, como uno de los máximos guardianes del rebaño-). Y sin embargo... la unidad es necesaria, en cada instante, para poder sobrevivir, como individuos, al torbellino del río de la vida, para saber hacer turismo al borde del abismo, para ser un experimentador, un buceador, un genealogista, sin que nos gane ese poco de locura que, es cierto, está al acecho siempre en toda basura, para que no nos pregunten: “¿Cómo te has dejado/ llevar a un callejón sin salida,/ el mejor dotado de los conductores suicidas?” ¿Cómo podrá el hombre realizarse en la contradicción que es?
Asumir que somos ser y no ser es ya una tarea permanente, reconocer, corno conocimiento provisorio de lo provisorio, que lo que por milenios hemos denominado “ser” es una interpretación del Wille zur Macht, es proyecto, un arrojarnos al más difícil de los trabajos: el no permanecer en lo adquirido, el sentirse incómodos, un no tener sombras bajo las cuales descansar. Y es desgarrarse en un devenir incaptable en palabras que representen algo más que el instante de una interpretación. Y este desgarramiento en el asumirse se da en medio de una lucha, en medio de un violento combate que conduce, en la voluntad de poderío fuerte, a la superación.
1. Moral de la distancia, moral de la nivelación
Existen, entre otras, dos posturas para observar el tema de la superación. La primera diría que no cualquiera puede lograr la superación, sino que hay algo así como un “innatismo” (se nace con las disposiciones necesarias para lograr la superación), llámese “raza superior” (adhiriendo así al concepto de “raza”, y postulando, a partir de esto, que alguna es superior a las demás, describiendo luego qué rasgos la conformarían), o “inclinaciones superiores” (que estallan en algunos individuos desde su nacimiento, actualizándose en algún momento). La otra postura plantearía que cualquiera puede superar la enfermedad de las cadenas, con la condición de querer esa salud, con la condición de sentirse incómodo en ese estado. En nuestra propuesta, adherimos a esta segunda posición. El planteo en este caso no es simple, como a primera vista puede parecer, ya que se reconoce para esta superación la intervención del azar. Somos azar, somos juego, desde que nacemos hasta que morimos: no podía ser de otro modo en una vida que se reconoce, desgarrada como constante cambio. La superación se da cuando se dice “sí” al azar mismo, a la vida tomada como juego, al devenir que no anuncia qué trae consigo para el próximo minuto. La aceptación en este caso no es una aceptación resignada, sino alegre, inocente. Es la aceptación del niño que juega, y que constituye su mundo (y se constituye) en el jugar.
Si se realiza una interpretación de la voluntad de poderío que no siga a aquélla que la ve como mera voluntad de dominio
[i], nos encontramos frente a lo siguiente: la voluntad de poder es una multiplicidad de puntos de poder en constante movimiento que se expresa en los instintos que cada ser humano posee (es): instinto de conocimiento
[ii], instinto de conservación, y también, como uno entre otros, Trieb, (instinto, impulso) de dominio.
La voluntad de poder puede ser fuerte (activa) o débil (pasiva). Al primer caso pertenece la voluntad de poder de la distancia, de la perspectiva, de la mirada de pájaro: es la voluntad de poder de los señores, que no actúan por reacción. La acción de la moral de la voluntad de poder fuerte vale por sí misma, pues no funciona como reactividad frente a la actividad ajena. La voluntad del señor es una voluntad de poder que, por encima de todas las cosas, se quiere a sí misma, en un proceso circular. El tipo de señor no debe ser confundido, en ningún caso, con una determinada clase social, o un estrato político: no es señor el que tiene más económicamente, o el que posee poder político, o el que está -por nacimiento, cultura u otra circunstancia- por encima de los demás. Es señor el que se enseñorea sobre la voluntad de poderío débil y, antes que sobre otra voluntad débil, sobre la suya propia: el amo de sí mismo, quien es dueño de sí, el despreciador de la voluntad de poder débil, decadente, el guerrero que combate sólo contra poderosos enemigos y cuyo único fin es su propia superación.
Si bien todo lo viviente tiene voluntad de poder, sólo la voluntad de poder fuerte tiende a la superación, que es, en su base misma, autosuperación. Las infinitas posibilidades abiertas ante y por la voluntad de poderío fuerte confluyen, en cada instante, en su propia superación. La voluntad de poder fuerte desea el combate como medida de su eterno movimiento, pero su deseo busca un igual, o un superior
[iii]. La voluntad de poder, en este sentido, no confronta con lo que considera más débil, ya sea porque era débil antes del combate, o porque llegó a serio durante el mismo, ya que la confrontación con el débil provoca debilidad, nunca aumento de fuerza.
El esclavo, por su parte, adhiere a la moral del rebaño. Todos son iguales en el rebaño, no hay praxis de superación. El hombre del rebaño es el hombre afecto a la gregarización, a las leyes (democráticas, impuestas por la mayoría) de la lógica. El hombre del rebaño siente placer en la gregarización, es el hombre fuerte de voluntad débil.
La filosofía practicada por el rebaño se caracteriza por: utilización de un lenguaje transparente, unívoco, divinización de meras convenciones y, consecuentemente, exilio de los que deciden apartarse, yéndose al desierto o a las alturas. Este apartamiento será para el rebaño la clara señal de que el tal es un loco (léase: utiliza lenguaje metafórico, pretende que una frase puede ser interpretada como un discurso -Goethe hace decir a Fausto: “En el principio era la acción”-, sin despreciar que sea parte de un discurso que la abarque, y respetando en esa frase ese discurso madre, pretende un nuevo lenguaje cada vez, vocea que el lenguaje debe ser desdivinizado. Fuera del calor del hogar, de los hermanos, de la familia, del rebaño.)
El hombre del rebaño es el camello que sólo sabe decir “sí”, que carga alegre con pesados deberes, arrodillándose para recibirlos mejor. Es el sujeto-sustrato de la tradición occidental, el hombre que parpadea
[iv], el de risa tonta y parloteo incesante, el que chasquea la lengua después de cada frase emitida en la plaza pública
[v]. Es el hombre que no sabe vivir en soledad, el hombre que teme las alturas: he aquí el que cultiva la moral de los esclavos, he aquí el esclavo de la moral del Bien y del Mal. Este es el hombre desconocedor de la fisiología, de que hay un “bueno” y un “malo” para cada humano y para cada momento, el hombre que ama los fundamentos, el creyente en trasmundos (metafísicos, morales, religiosos, políticos). Es éste el hombre que se siente protegido en medio del rebaño: jamás pondrá en duda sus concepciones más allá de lo que los demás, explícita o implícitamente, se lo permiten, más allá de lo que su propio decadentismo consiente. Este hombre somos cada uno de nosotros en tanto no tomamos la decisión por una moral de la distancia, estos esclavos somos nosotros al creer que porque una vez tomamos la decisión ya estamos, de una vez y para siempre en esta moral, estos seres somos todos y cada uno si nos sentamos tranquilos después de morder la cabeza de la serpiente. No es posible reír constantemente, pero para acceder a la superación, es necesario, cada vez, reír como el pastor de Zaratustra
[vi].
La moral del señor no es una moral hedonista, porque el placer no es el móvil, sino que el móvil es la superación y, además, el aristócrata de la moral no busca el placer o el dolor, sólo los acepta como parte del devenir. El placer no es aquí la causa, sino el efecto: la voluntad de poder, al superarse, produce placer. La moral de la distancia se aparta del “todos somos iguales” que pregona el intento de estatizar la diversidad de voluntades de poder que los humanos somos. La interpretación sugiere aquí: “todos somos distintos, cada centro de poder se diferencia del resto”.
2. Nihilismo, nihilismos
Así como la posmodernidad fue engendrada y dada a luz por la modernidad, así como creció a su sombra
[vii], así el nihilismo decadente y el nihilismo integral conviven desde hace dos siglos, en una convivencia que se da en cada uno de nosotros y en cada grupo social, religioso, político. Los descensos y ascensos de la voluntad de poder constituyen la vida en su decadencia y en su poderío ascendente.
La decadencia es un momento ineludible de toda vida, el descenso necesario, ya que el superhombre es sólo un instante. No hay superhombre para siempre, ya que el proceso es circular, de lo contrario, estaríamos proponiendo un nuevo dogmatismo. Pero la propuesta de la superación no es universalista, sino que la redención, el decir sí, es de cada individuo. Por otra parte, la propuesta no es estatizante, sino dinámica. Después del acontecimiento de la muerte de Dios, ya no podemos hablar metafísicamente, y es en este sentido que la propuesta no es metafísica: es sólo para este mundo, el único mundo. No hay dogmatismo en esta propuesta, ya que no interpretamos la superación como estatización, sino como el mostrarse de la voluntad de poder, que es disgregación y constante lucha.
La época y el hombre del nihilismo decadente se caracterizan por su búsqueda incesante de fundamentos, de utopías trasmundanas, de igualitarismos imposibles (y, entiéndase bien, estamos esbozando la teoría de las diferencias, no la acción de las diferencias, ya que en la praxis se pueden ficcionalizar políticas basadas en lazos de voluntad de poder que no se reifiquen y que, permitiendo el cambio constante de acuerdo con la voluntad de poder, lleguen a la gran política, deudora, claro está, del aristocratismo radical de la moral
[viii] ).
La voluntad de poderío fuerte destruye la decadencia, en un verdadero combate, en lo que Nietzsche denominó “nihilismo integral”. Este combate se da en cada uno, incesantemente, y la victoria se logra cada vez para volver a empezar. Ya no hay arkhaí y el superhombre, el hombre más débil, el hombre diferente al hombre moderno (fuerte, gregarizado, que posee un lenguaje transparente) ha optado por el nihilismo futuro y por el lenguaje del filósofo artista.
Grandes mentiras son necesarias para sobrevivir (¿quién resiste el caos sin organizarlo inmediatamente, como una necesidad que impone la vida misma?). conceptos provisorios que nos ayuden a sobrevivir ante la vista del abismo.
[ix] La genealogía nos ha descubierto que no hay Ursprung, sino múltiples Herrschaftsgebilde,
[x] Las invenciones humanas, demasiado humanas, están en el comienzo de todas las cosas
[xi]. (Y en el comienzo era la mentira, por eso los poetas, esos eternos dadores de luz, siempre mienten).
3. El combate encarnizado: la creación de un nuevo lenguaje
¿Cómo responderemos al desafío de la música futura de un nihilismo ya presente?
[xii] Si no hay hechos, sino sólo interpretaciones,
[xiii] nuestras armas deberán ser, ante todo, lingüísticas. Y las armas están listas para quien ha tomado la decisión de morder la cabeza de la serpiente negra que ahoga, que sofoca la palabra, que no deja vivir. Pero, ¿cómo tomar las armas adecuadas? Un lenguaje representacionista, un lenguaje que pretende describir la realidad tal cual “es”, un lenguaje que se pretende transparente, ¿es éste el lenguaje que necesita el filósofo artista para destruir las sombras de Dios, la religión secularizada en liberalismos y socialismos, que, por igual, han despreciado la vida en nombre de sus dioses-ideales?
[xiv]La respuesta es negativa, y esta negación implica una afirmación: tenemos la posibilidad, plenamente abierta, de un nuevo lenguaje. Nietzsche nos los mostró en Así habló Zaratustra: un lenguaje metafórico, encarnizado, encarnado en el cuerpo del filósofo, cuerpo que es el anclaje de la voluntad de poderío, cuerpo cuyo centro está en la tierra.
La metáfora es música, es desestructuración de sentidos y es, sobre todo, un acceder, a través de la redescripción, a una nueva referencia, ya que lo que la referencia literal es al sentido literal lo es la referencia metafórica al sentido metafórico
[xv]. Un no compromiso momentáneo con el mundo de la percepción nos permite jugar con nuevas posibilidades. La condición negativa de la suspensión de la referencia que es inherente al lenguaje descriptivo permite que aparezca un poder más radical de referencia a aspectos de nuestro ser en el mundo que no pueden ser dichos de modo directo.
La razón poética (poiética) se presenta así como una dimensión del lenguaje, como una capacidad para dejar aparecer. Por eso dirá Ricoeur que nuestras imágenes no son sombras de la percepción: la semejanza de la metáfora es instaurada antes que percibida, ya que vemos la imagen en cuanto entendemos las nuevas configuraciones de sentido dadas por la tensión que se produce entre el “es” y el “no es” que, alejados en el espacio lógico, son puestos repentinamente en contacto. En tal sentido, la metáfora es un acontecimiento que sucede en la escucha y en la lectura y que se pierde en el lenguaje ordinario, donde la metáfora viva se convierte en metáfora muerta (deja de percibirse la torsión verbal, el error calculado, la predicación extravagante y, sobre todo, la nueva pertinencia predicativa que emerge sobre la predicación impertinente que se da sobre las ruinas del sentido literal)
[xvi].
Este nuevo lenguaje nos hablará del mundo imaginando (reestructurando) nuevos campos semánticos. Se levanta la fuerza heurística de la ficción, su capacidad de abrir nuevas dimensiones de la realidad, nuevas perspectivas puestas en juego, nuevas interpretaciones: una metáfora continuada. Y así descubrirnos (inventamos) el mundo como fábula, como un mito, como una poesía, como un gran poder de resignificar, permanentemente. Y para esta tarea es necesario querer asumir la iniciativa (en términos de Ricoeur)
[xvii], el combate (en terminología nietzscheana)
[xviii]. Si no hay posibilidades petrificadas ni “irrealizabilidades” (utopías trasmundanas) puede haber presente histórico, un presente que consiste en la iniciativa de una posibilidad futura realizable, que se inspira en las posibilidades disponibles del pasado, porque no están petrificadas, ya que si sólo hay posibilidades petrificadas y utopías -con el sentido señalado- no hay historia,
[xix] que es el suelo presupuesto de todo quehacer ético.
En el dejar aparecer de la metáfora viva conviven el ser y el no ser, a la vez, y esta contradicción no es anulante, sino operante, en una realización vivificante-vivificada, una actuación en que las potencias se despliegan para Interpretar las fuerzas siempre en movimiento del Wille zur Macht.
4. El combate lingüístico: un cuerpo metafórico
Hemos intentado a lo largo de estas páginas una interpretación acerca de la relación entre la moral del nihilismo y la perspectiva que nos ofrece la propuesta de un combate contra ella, combate que proponemos como lingüístico. Dado que partimos del supuesto de que nada hay fuera del lenguaje, la mirada adoptada acepta que:a) no hay hechos, sólo interpretacionesb) asumimos la voluntad de poder como criterio de la interpretaciónc) la voluntad de poder misma es una interpretaciónd) no hay nada fuera del lenguaje (porque sólo hay interpretaciones, no hechos)e) no existe un lenguaje normativo (después del acontecimiento de la muerte de Dios, las arkhaí son inútiles, en tanto atentan contra la vida, sometiendo el devenir a la estatización y al empobrecimiento, y enfermando el acto lingüístico creativo)f) 1a la moral es, por lo expuesto, también una interpretacióng) el nihilismo es la interpretación que la voluntad de poder débil hace del mundo. Asumir esa interpretación y destruirla es tarea de la voluntad de poder fuerteh) el combate contra el nihilismo sólo puede ser lingüístico, pero el lenguaje a utilizar no podrá ser el lenguaje descriptivo y representacionista de las ciencias. Sostenemos que el lenguaje representacionista,- que descansa sobre el supuesto de que el mundo (como un hecho) y el yo (como un sustrato) son entes separados, y que el lenguaje es un medio entre ambos, es un obstáculo para el acto verdaderamente creador. Darse una “tabla de nuevos valores” (siempre provisorios) no puede ser tarea del lenguaje del nihilismo. La destrucción del nihilismo (una interpretación que sostiene que existen fundamentos) no puede darse por medio de un lenguaje que sostiene que es base (fundamento) para toda traducción. Y no es inútil agregar que un lenguaje representacionista no permite ninguna lucha, ninguna desestructuración, ninguna creación. Sólo admite la copia. Y el combate creativo contra la decadencia nihilista sólo se puede dar si aceptamos la interpretación de que los seres humanos somos lucha constante de diversos impulsos, no un hecho consumado, no un yo inmutable: somos vida, disgregación, cambio. Y esta perspectiva nos permite asumir que somos lenguaje metafórico vivo, un lenguaje que admite interpretaciones, que crea constantemente, que propone sin cesar nuevos caminos, nuevas miradas. La metáfora que somos es lucha de sentidos en pugna interminable, el mundo es interpretación sin fin.
Proponernos, entonces, el combate contra el nihilismo como combate lingüístico, asumiendo el lenguaje de la metáfora viva e ininterrumpida, que permita asumir la fortaleza de entender que ya no tenemos fundamentos sobre los cuales apoyarnos y descansar, no hay Dios ni sombras de Dios bajo las cuales descansar (ni Dios, ni lenguaje unívoco, ni supuestos inamovibles, ni verdad -sólo ficciones necesarias para la vida-, ni universalismos), sólo formaciones que la voluntad de poder expresa en las metáforas que surgen de cada fisiología. Y entender que sólo podemos entender en sentido perspectivista y metafórico y que sólo podemos proponer interpretaciones, y que los mismos argumentos con los que intentemos “refutar” una interpretación son, a su vez, interpretaciones.
ABSTRACT
This paper shows the interpretation given lo “combat against nihilism”: an interpretation where the combat is linguistic (because there are no facts, just interpretations), where there is no normative language (as norms died with god's death) and where nihilismo is the way in which the weak will of power interprets the world. Ande we are in front of a combat that can only be waged by the destruction of structures that metaphorical language offers.
Stella Accorinti
[i] Cf. Martin HEIDEGGER, Nietzsche, Pfullingen, Neske, 1961, Band II, 26-27, hay traducción francesa, realizada por Pierre Klossowski.
[ii] Sobre el instinto de conocimiento como voluntad de poder, véase La genealogía de la moral. También, en Así habló Zaratustra, “Del inmaculado conocimiento” y “De los doctos”.
[iii] Es interesante consultar al respecto, en La genealogía de la moral, el análisis realizado sobre la casta sacerdotal. Cf. Ecce Homo, “Por qué soy tan sabio, # 7 y El Anticristo, p. 101.
[iv] Vide Martin HEIDEGGER, Qué significa pensar, trad. Haraldo Kahnemann, Buenos Aires, Nova, 1964, Lección VII de la primera parte, pp. 82-83.
[v] Así habló Zaratustra, “De la chusma”.
[vi] Id., “De la visión y del enigma”.
[vii] Ver Marshall BERMAN, Todo lo sólido se desvanece en el aire. La experiencia de la modernidad, trad. Andrea Morales Vidal, Madrid, Siglo XXI, 1988.
[viii] Para la expresión “aristocratismo radical” véase Georg BRANDES, Nietzsche (Un estudio sobre el radicalismo aristocrático), trad. J. Libermann, Buenos Aires, Cóndor, 1927.
[ix] Vide Mónica CRAGNOLINI, “Nietzsche, la moral y el nihilismo”, Cuadernos de Ética, Buenos Aires, Nº 9, 1991, pp. 7-25.
[x] Entre otras referencias alterna, se puede consultar Michel FOUCAULT, Microfísica del poder, trad. Julia Varela y Fernando Álvarez-Uría, Madrid, La Piqueta, 1979, pp. 7-25.
[xi] Cf. Humano demasiado humano, passim, y “Sobre verdad y mentira en sentido extramoral”, Discurso y realidad, trad. Lucía Piossek Prebisch, Tucumán, año II, Nº 28, 1987, pp. 71-83.
[xii] Póstumos 1882-1888, publicados como La voluntad de poderío, trad. Aníbal Froufe, Madrid, EDAF, 1980, p. 21 (Prefacio, 2).
[xiii] Pueden confrontarse los parágrafos 2, 4, 14, 19, u.a. de Más allá del bien y del mal.
[xiv] Con respecto del desprecio de la vida realizado a lo largo de la historia, las guerras y matanzas que se han llevado a cabo por la defensa de ideas (cuyo valor se puso por encima de la vida de millones de humanos que derramaron su sangre en pos o en contra de dioses-ideas, o como víctimas de los adoradores de las ideas ) véase Jean-Francois LYOTARD, La postmodernidad (explicada a los niños), trad. Enrique Lynch, Barcelona, Gedisa, 1987, p. 91.
[xv] Pensamiento claramente expresado por el filósofo francés Paul RICOEUR, La metáfora viva, trad. Graziella Baraville, Buenos Aires, Megápolis, 1977, p. 334.
[xvi] En su visita a la República Argentina, realizada en la década del 80, RICOEUR expuso sus tesis en este sentido. El desarrollo de sus conferencias en la Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad de Buenos Aires tuvieron como texto base lo que luego se publicaría en Educación y libertad. De la historia personal a la comunión de libertades, trad. Ricardo Ferrara, Buenos Aires, Docencia, 1984, pp. 19-43.
[xvii] Del mismo autor, Du texte a l’action. Essais d’herméneutique, II, Paris, Seuil, 1986, pp. 261-262. Para una comprensión profunda del tema, puede consultarse el artículo “L’imagination dans le discours et dans l’action”, pp. 213-236. Hay traducción al castellano (editorial Docencia). Sobre el mismo tema, Mónica CRAGNOLINI, “Imaginación y conflicto: aportes reflexivos desde la obra de Paul Ricoeur”, Cuadernos de Ética, Buenos Aires, Nº 8, 1989, pp. 7-16 (especialmente pp. 14-16).
[xviii] La terminología que gira alrededor del concepto “combate” puede ser rastreada en la obra nietzscheana en varios texto, por ej,.La genealogía de la moral, El Anticristo, su Póstumos 1882-1888, etc.
La escuela y los mass media
La civilización en la que somos y estamos ha dado en denominarse Posmodernidad, Tardomodernidad o Modernidad tardía, conceptos todos ellos que hablan de que algo fundamental ha sucedido respecto de los valores que sostuvieron a la Modernidad. Los grandes relatos acerca de la historia como algo unitario dejan de ser una mirada que dé cuenta de lo que realmente sucede. Las voces se dejan oír en la radio, y su multiplicidad habla del desvelamiento del carácter ideológico de las representaciones de una historia única, y ha quedado al descubierto, definitivamente, que la práctica dice que la tesis de Benjamin acerca de que la historia es la representación del pasado construida por las clases dominantes es una mirada productiva para comprender el desarrollo de los acontecimientos que nos involucran. Fechas, batallas, héroes nos cuentan acerca de una perspectiva que privilegia a quienes tuvieron el poder, cuando la historia en realidad pasaba de manera densa por el modo de alimentarse de la gente, por las exclusiones de las mujeres y los niños, por la sexualidad.
La idea unitaria de la historia, ese dios, ha muerto, y con él cae toda su angeología jerárquica: la idea de progreso, por ejemplo. La escucha de muchas voces diferentes, disonantes y enriquecedoras se patentiza a través de la radio, de la televisión, de los mails, del chat, y estas voces conforman una sociedad compleja. En reconocer esta complejidad "reside nuestra esperanza de emancipación".[1]
Los mass media han contribuido a la disolución de los puntos de vista centrales, los grandes relatos (Lyotard). Contra lo que Adorno sostuvo en su Dialéctica de la Ilustración, los medios de comunicación no han homologado a la sociedad, por el contrario, la televisión, los periódicos, la radio e Internet se han constituido en explosión de Weltanschauungen, multitudes de diversas cosmovisiones del mundo. La lógica del mercado, en la que aún estamos inmersos, hace que todo, de alguna manera, se convierta en comunicación. Esta resultará, en algún momento, en la dilatación intensa, prolongada e incontrolable de las fronteras del mercado, que implotará bajo el dominio de las fuerzas que ha creado. Tal como Marshall Berman sostuvo en Todo lo sólido se desvanece en el aire acerca de la Modernidad, el mercado trae la muerte en su propio vientre, y en algún momento parirá los hijos que lo destruirán, hijos que ya cobija en sí.
El ideal de una sociedad transparente está quebrado para siempre por el ruido y la opacidad que generan millones de voces diferentes. Sin coordinación central, las imágenes se entrecruzan, contaminando todo discurso que se precie de transparente. El ideal de emancipación modelado por la autoconciencia que se despliega sobre el resto (Hegel) ha sido sustituido por el ideal de emancipación sostenido por bases de pluralidad, oscilación y erosión del principio de realidad. El rescate de las ausencias se constituye en una tarea: no las presencias impuestas por una mirada monolítica, sino las ausencias propuestas por ideas de liberación que rescatan lo que nunca estuvo, lo que pudo haber sido y no pudo ser, lo que podrá ser. Los mass media oponen a la imagen de una realidad basada en un único fundamento tranquilizador (propio de una humanidad aún primitiva) los miles de fragmentos de interpretación propuestos en lugar de la realidad única. Hemos perdido el sentido de la realidad, es verdad. ¿Pero qué es lo que hemos perdido? Lo que se ha disuelto es el sentido de la realidad impuesto desde una racionalidad fuerte. El mundo de la comunicación realiza la mostración de las minorías étnicas, estéticas, sexuales, religiosas. Todos los dialectos posibles se hacen presentes, y adquieren su dignidad al descubrir su gramática. Mi dialecto es sólo uno entre otros. El poder está ahí, más aún, está aquí, en mí, a la mano. Todos tenemos poder. Poder de crear, de decir, de expresarnos. Poder de desensamblar el mundo. Poder para crear un mundo nuevo.
Los mass media no garantizan la libertad, sólo proponen una experiencia de la libertad que oscila entre la pertenencia y el extrañamiento, entre lo que está y lo que no está, entre lo que somos y lo que podríamos ser, entre lo que soy y lo que es el otro. Los nihilistas (Nietzsche, Heidegger) y los pragmáticos (Wittgenstein, Dewey) coinciden en que el ser no es fijo, sino que es una construcción del diálogo, del consenso, de la interpretación. Esta manera de ver el mundo es una oportunidad para recrearnos como seres humanos, y para recrear un mundo totalmente diferente.
El individualismo de la tardomodernidad no constituye punto de anclaje de la despolitización, sino de una nueva politización. No hay una independencia asocial, sino conexiones de colectivos con intereses que una mirada moderna podría considerar hiperespecializados[2]: redes institucionales, redes integrales, grupos de ayuda para alcohólicos, agrupaciones de homosexuales, redes de cooperación de crotos. Lo que se ve claramente en esto es la retracción de objetivos universales. Mientras la Modernidad se obsesionó con la revolución y la producción, la Posmodernidad se ha enamorado de la expresión y de la información.
¿Y la escuela? En este momento histórico de posfundamentos y antiesencialismo (como gustan llamar algunos a la Posmodernidad, para evitar, en vano, ataques sobre un presunto relativismo desmovilizador), los diseños curriculares que conformen el currículum vivo deberían ser fórmulas de negociación. Las nuevas tecnologías realizan la parición de nuevos sujetos. La vivencia de una crisis estructural generalizada no promueve una reacomodación , sino un cambio, que probablemente se construya en una generación, o varias. La escuela no es ajena a esto. La escuela se ha quedado sin categorías para pensarse a sí misma. Como creación de la Modernidad, asiste azorada a los cambios vertiginosos. ¿Cuáles son las funciones del pensar utópico que ha caracterizado a la escuela, ahora redimensionadas en las condiciones de existencia posmodernas? ¿Acaso nos han bloqueado el pensar utópico, al formarnos en las respuestas y no en las preguntas?.[3]
Tenemos las teorías para explicar las sociedades que funcionan, pero no las que se están estructurando. La noción de sujeto ha tenido un estallido conceptual y práctico[4], del cual la escuela debe dar cuenta. Es evidente que el currículo está determinado por los intereses de los grupos de poder. ¿Cuál es la justificación de la existencia de la educación tal como es en este momento? Una indagación a través de la arqueología (Foucault) y de la genealogía (Nietzsche) podría generar algunas perspectivas de análisis tendientes a la apropiación de categorías que permitan ver el cambio. Los continentes existen, pero sólo tenemos mirada para ver la pangea. El movimiento a través de los mares
y las tierras está ocurriendo desde hace mucho, pero seguimos hablando en educación como si el mundo fuera plano y los continentes estuvieran unidos. Pero hay una teoría un poco más productiva: el mundo es un esferoide y existen continentes claramente diferenciados, y existe Europa, con su(s) historia(s), Africa con la(s) suya(s), América Latina con la(s) suya(s). La escuela debería producir, juntos los docentes y los estudiantes, las miradas necesarias para comprender el mundo. Ese debiera ser el primer y principal objetivo de la educación: hacer que estudiantes y docentes desarrollen el pensamiento multidimensional en comunidades de investigación, para lograr de ellos que sean buenos investigadores, críticos, creativos y cuidadosos.
El mercado y una mirada que propone un mundo diferente coinciden en que la educación debiera ser, primordialmente, creación de sentido. No hay oposición en esto, como suele suceder en los caminos de pasaje, en los puentes. La nueva educación puede satisfacer el camino de transición, en el cual caminan juntos aún la sociedad de mercado y la nueva sociedad planteada por el pensamiento antiesencialista. Estados Unidos surgió como centro del currículo y nosotros (me refiero a la América hispanohablante) como periferia, pero los medios de comunicación están erosionando los sentidos uniformes dados antaño a los conceptos de centro y periferia. Los conocimientos fluyen a través de la televisión, la radio, Internet.[5] Estamos tanto más conectados con profesionales que desarrollan investigaciones en educación en lugares remotos del planeta que con nuestro colega de la oficina vecina. Una auténtica revolución, una vuelta completa.
En los lugares considerados como países centrales no hay aún una nueva hegemonía, y por eso la educación atraviesa una crisis identitaria. En la hegemonía se juega de manera dramática la identidad, y los países pobres deberían asentar su identidad en los procesos brindados por la educación. Pero repensar la educación es una obligación. Educación es un concepto muy amplio, que puede, por ejemplo, no incluir a la escuela.
Las voces, las caras y los cuerpos de los pobres ya no son invisibles. Los mass media muestran las diferencias. La educación debería dejar de considerar como un mundo aparte a los medios de comunicación, y debería tomarlos como parte constitutiva del análisis que cimenta sus ejes constructores. La educación formal se basó en el régimen industrial, pero este régimen se está desmoronando, y en su lugar aparecen los nuevos empleos, e incluso más y más teorías que reclaman un cambio total. La educación observa la erosión de su base y propone estrategias de cambio que son respondidas con indiferencia por los estudiantes.
Desde el sujeto centrado, revolucionario y vanguardista, centrado en la razón universal emerge un sujeto escindido (él o ella) con estructura indecidible, centrado provisoriamente en el momento de decisión. Estamos construyendo una nueva cultura, basada en rasgos y contornos, una manera de empezar a construir nuevos enfoques paradigmáticos (no un nuevo paradigma). Estamos, entonces, investigando un campo no constituido. Las fronteras anexactas (necesariamente inexactas) entre los medios de comunicación y la educación realizan las luchas por el poder, con lógicas de la equivalencia y la diferencia, lógicas de la articulación diferentes de la lógica aristotélica: la educación, experimentando un cambio brutal que la lleva a estallar su propio campo constitutivo, es y no es al mismo tiempo.
La mayor parte de quienes escriben, teorizan y enseñan sobre los medios de comunicación pertenecen a generaciones que no son hijas ni de la televisión ni de Internet.[6] Su mirada es externa, y su identidad no está constituida en los nuevos lenguajes. Los medios han producido cambios radicales en todos los entornos (por eso Mc Luhan dice que el medio es el mensaje), pero en la escuela hallamos que los apocalípticos, una mayoría apabulladora, no intentan comprender el mensaje de los "integrados" (Eco)[7]
Siguiendo la lógica estricta de la Modernidad, en la escuela se denigra la imagen, de acuerdo con prejuicios logocéntricos.[8] Seguimos encadenados a un pensamiento en el cual la escritura es lo validado como artífice central de la educación, sin ver que la letra es, "en puridad", imagen, y que la dominación de la jerarquía lineal es sólo un asentimiento más al proceso de trabajo en serie y a la cadena de fabricación y a las líneas de montaje fabriles.[9]
[1] G. Vattimo, La sociedad transparente,pág. 78
[2] G. Lipovetsky, La era del vacío, pág. 13
[3] Varios movimientos y programas educativos se insertan fuertemente en la escuela a partir del eje de la pregunta. El punto nodal no son los contenidos, que deben ser aprendidos en y por el hoy. Muchos de esos contenidos cambiarán en veinte años, incluso los contenidos históricos (Reich), por eso es importante que los alumnos desarrollen el juicio creativo, el juicio crítico y el juicio cuidadoso del otro, para ser capaces de preguntarse en qué clase de mundo desean vivir, y qué desean hacer para promover activamente el cambio del mundo, para transformarse de receptores pasivos en investigadores activos en comunidades de investigación. Cf. Lipman, (1980, 1989), La filosofía en el aula
[4] Alicia de Alba, "Los sujetos educativos: la tarea de reescribirlos conceptualmente". Ponencia en el Congreso Internacional de Educación, Educación, crisis y utopías. Buenos Aires, Argentina, 24 al 26 de julio de 1996
[5] No estamos olvidando en este análisis que Internet desarrolla su actividad, básicamente, en inglés, lo que es una clara mostración de uno de los tres poderes mundiales más visibles de Estados Unidos (poder de policía, poder de la lengua, poder de la moneda). Pero hemos privilegiado en este análisis las categoría de la diferencia y la opacidad que permiten ver las luchas de poder nada anodinas que en los medios de comunicación se desarrollan cada vez de modo más enfático. En los chats, sus participantes hablan una mezcla de inglés, francés, español y cualquier otra lengua a la mano, sin utilizar ni la sintaxis ni la ortografía de cada lengua. "CUL8R" es "see you later", los fonemas privan sobre los grafemas, por ejemplo, "klaro", "ke te pasa", "es un uebo", se utilizan señalizaciones para presentarse, "ASN?", es "cuantos años tienes, eres mujer o varón, de qué país eres", etc.
[6] G. Bechelloni, Videoculturas de fin de siglo, pág. 55
[7] J. Ferrés, Televisión y educación, pág. 18
[8] J.M.Pérez Tornero, El desafío educativo de la televisión, pág. 81
[9] Ibídem, pág. 88